Revista Pensando Famílias
“Pensando Famílias” é uma publicação regular do DOMUS – Centro de Terapia de Casal e Família visando a divulgação de artigos inéditos referentes às áreas de casal e família. As modalidades dos trabalhos aceitos incluem artigos teóricos, relatos de pesquisa e casos clínicos, artigos de revisão e/ou atualização bibliográfica, resenhas e outros que serão submetidos para avaliação da Comissão Editorial, Conselho Editorial e Consultores ad hoc.
Textos, posicionamentos teóricos e ideológicos, contidos nos trabalhos propostos, são, unicamente, de responsabilidade do autor.
A terapia familiar, no decorrer dos anos, vem delineando sua importância no intuito de entender o indivíduo e suas interações em contextos cada vez mais amplos. Nos diversos encontros científicos nacionais e internacionais já ocorridos, percebemos como as situações relacionais e os conflitos que afligem as pessoas nas diferentes partes do mundo passam pelos mesmos meandros.
Trabalhamos, atualmente, dentro de uma visão que se estende além de nossas fronteiras. Os avanços tecnológicos permitem-nos, com seus diferentes recursos, tomarmos conhecimento de novas experiências e diferentes abordagens que nos enriquecem e permitem-nos alcançar maior eficácia tanto no alívio do sofrimento humano como em proporcionar uma melhor qualidade de vida. Realizar isso de forma espontânea, com criatividade e amor é uma arte que o terapeuta familiar apreende a desenvolver.
Assim, os artigos aqui apresentados, falam um pouco dessa experiência em compartilhar idéias e reflexões, necessitando para isso um olhar interno, ampliando as possibilidades de conhecer-se a si mesmo o que, naturalmente, conduz a um maior conhecimento do outro.
Como terapeutas de família, comprometemo-nos em aceitar as mudanças advindas do próprio desenvolvimento humano, enfrentando-as com uma atitude fundamentada na ética pessoal e científica. Introduzindo o tema Ética em Pensando Famílias, Lindoia Cusinato traça considerações sobre a Bioética e sua aplicação na prática diária.
Uma atividade interessante realizada pelo terapeuta é a consultoria. Edith Tilmans-Ostyn, através de sua experiência, apresenta-nos suas idéias sobre a possibilidade de consultoria no sistema pediatra-família, podendo alcançar diferentes objetivos, como: orientar o pediatra ou a família, oferecer alternativas de mudanças aos membros da família ou evoluir para buscar psicoterapia.
Lançando um olhar sobre o sistema conjugal, Helena Centeno Hintz comparte reflexões sobre o processo de alternância entre os sentimentos de amor e ódio existentes em casais, revelando-se estes como expressão de afeto.
A infidelidade, tema bastante polêmico, é trazida por Marli Kath Sattler, que discorre sobre seus diferentes significados nas mais diversas situações.
Introduzindo o sistema familiar, os seguintes artigos apontam a necessidade do tratamento ser dirigido à família, buscando-a como reforço ao tratamento individual. Judith Landau apresenta-nos sua forma de trabalhar famílias e redes para engajar no tratamento pessoas com abuso de substância. São princípios e técnicas com o objetivo de estruturar intervenções em rede, programadas com esta finalidade. É o Método ARISE (Seqüência de Intervenção Relacional de Aderência). O artigo “Construindo alternativas no tratamento de famílias com pacientes psiquiátricos” traz a questão sobre a inclusão da família no atendimento de pessoas portadoras de sofrimento psíquico com uso de psicofármacos.
Explorando a comunicação como instrumento terapêutico, Tom Andersen lança suas idéias sobre os vínculos como conexão entre os seres humanos, contendo diferentes tipos de expressão, como: toques, olhares ou conversas. Refere a importância do ouvinte ouvir o que o outro quer realmente dizer e não ouvir o que ele deseja escutar. Eva Kjellberg apresenta sua maneira de trabalhar com famílias, quando a linguagem fica impossibilitada de expressar tanto os sentimentos da família como a compreensão da dinâmica relacional por parte do terapeuta. Para isso, ela combina dois campos: a reflexão em um processo sistêmico-construcionista e a pintura de “paisagens internas” com a arte-terapia. Dora Schnitman escreve sobre a importância da análise e manejo transformativo dos conflitos como um novo paradigma de comunicação e de mudança cultural. Pietro Barbetta discorre sobre a integração das famílias de imigrantes. Focaliza sobre os aspectos lingüísticos e seu pertencimento em uma comunidade lingüística, aponta também para a possibilidade de gerar uma diferença intercultural a partir de uma diferença intergeracional.
Agradecemos aos profissionais a disponibilidade em apresentar suas experiências e compartilhar suas reflexões. Desejamos a todos uma boa leitura.
Helena Centeno Hintz
Resumo: A Bioética é considerada a Ética Aplicada às questões da saúde, da vida, da morte e aos limites das pesquisas em seres humanos. Neste artigo são feitas considerações sobre a história e o desenvolvimento da Bioética e sua aplicação em nossa prática diária, baseada nos valores morais, legais e humanos.
Abstract: Bioethics is considered the Applied Ethics to health, life, death and the limits of the research in human being. ln this article it is made considerations about the history, development and its aplication in our daily practice, supported on moral, legal and human values.
Lindoia Cusinato
Resumo: Com o apoio do vínculo de confiança – às vezes de longa duração estabelecido entre o pediatra e a família, o psicoterapeuta pode permitir-se entrar neste sistema de maneira tangencial mas, entretanto, incisiva. Uma sessão de consultoria pode ter efeitos em diferentes níveis: orientar o pediatra, ou a família, oferecendo novas possibilidades de mudança aos membros da família, ou igualmente evoluir para uma busca de psicoterapia. As particularidades desta colaboração e deste tipo de intervenção são postas em evidência e ilustradas pelas vinhetas clínicas descritas tanto pelo psicólogo como pelo pediatra. Este artigo está baseado em uma prática comum de uma dezena de anos.
Abstract: With the support of a trustful relationship – sometimes existing already for a long time – between the pediatrician and the family, the psychotherapist may enter in this system trough a tangential yet incisive way. A unique consultative session may have effects at different level: to advise the pediatrician in his follow up of the family, to give new viewpoints to the family members that open up possibilities for change. It may end up in a request for psychotherapy. The particularities and specific ways of intervening during such a session are presented and concretely illustrated by clinical vignettes. The article is written conjointly by one psychologist and by one pediatrician, and based on a tem years practice of collaboration.
Edith Tilmans-Ostyn; Daniel Bachelar
Resumo: Encontramos, seguidamente, nos casais, relacionamentos paradoxais ou ambivalentes, onde sentimentos absolutos e contraditórios permanecem como expressão de afeto. O amor leva dois seres a unirem-se, envolvendo-se de tal forma, que se sentem como se fossem apenas um. Entretanto, em algumas relações complementares, aquele que representa o ideal do outro, ao perceber que deixou de ser a figura única, amada e idealizada pelo outro, pode vir a não suportar esta experiência de desidealização, vivenciando esta situação como uma quebra de regras estabelecidas. Assim, ao não aceitar a possibilidade de ser diferente, manifesta um sentimento de ódio ao outro que o coloca frente a esta constatação. Desta forma, de uma posição de amor, alterna para uma posição de ódio, assumindo, muitas vezes, uma conduta de destruição daquele que ama. A estabilidade do vínculo atual é produto da convivência diária, porém a maneira como o vínculo se constitui – criação das regras básicas – depende, fundamentalmente, dos primeiros vínculos estabelecidos com as figuras paternas (ou com suas substitutas) e da possibilidade de resolução de conflitos surgidos. A proposta é pensar estes processos de alternância de amor e ódio na convivência conjugal e qual é sua dinâmica relacional.
Abstract: We find, frequently, in the couples, paradoxical or ambivalent: relationships, where absolute and contrary feelings remain as expression of affection. Love takes two beings to engage as if they were only one. However, in some complementary relations, that one that represents the ideal oft the other, perceiving that is no more the only figure, loved and idealized for the other, may not support this experience of un-idealization, living this situation as a breach of the rules. Thus, not accepting the possibility – being different, it starts to hate the other that shows this evidence. Therefore from a position of love, alternates to a position of hate, having, many times, a behavior of destruction of the one they love. The stability of the current bond is a product of the daily living however the way as the bond is built establishment of the basic rules depends, basically, on the first bonds built with the paternal figures (or with their substitutes) and on the possibility of solving the conflicts that come up. The proposal is to think these processes of alternation of love and hate in the conjugal relations and which is its relational dynamics.
Helena Centeno Hintz
Resumo: Nos consultórios, nas rodas sociais e na mídia o tema da infidelidade tem surgido com muita freqüência. Isso se deve ao fato de a infidelidade ter aumentado entre os casais? Ou as mudanças sociais levaram ao questionamento de alguns mitos, fazendo com que esse tema, tratado com muita discrição, esteja obtendo mais visibilidade?
Abstract: In the clinical practice, in social gatherings and in the midia, infidelity has become a frequent theme. Does this mean that infidelity has increased among couples? Or that social changes have allowed some miths to be questioned, and gave more visibility to this subject?
Marli Kath Sattler
Resumo: O modelo descrito neste artigo toma em consideração dois dados principais: (a) Em um determinado ano, a grande maioria (90-95%) dos abusadores de substâncias ativas não entra em tratamento ou em grupos de auto-ajuda (b) abusadores de drogas possuem um contato freqüente com seus familiares (60-80%), vivem com um dos pais ou estão em contato diário com eles. Este artigo apresenta um método de mobilização e colaboração com famílias, estendendo ao sistema de apoio no sentido de trabalhar com a resistência para motivar o abusador de substâncias ao tratamento. Princípios e técnicas são oferecidos para reunir e estruturar encontros de intervenção em rede para este fim. Esta abordagem de intervenção em rede pode ser usada tanto sozinha como parte de um modelo amplo, ARISE (A Relational Intervention Sequence for Engagement), (Seqüência de Intervenção Relacional de Aderência). O modelo ARISE aponta, tanto para questões clínicas como programáticas, da adesão de abusadores de substâncias ao tratamento.
Abstract: The model described in this paper takes into consideration two key findings: (a) In a given year, the vast majority (90-95%) of active substance abusers do not enter treatment or selfhelp groups. And (b) substance abusers have frequent contact with their families (60-80% either live with a parent ar are in daily contact). This paper presents a method for mobilizing and collaborating with families and extended the support system toward working with resistance and getting the substance abuser into treatment. Principles and techniques are provided for convening and structuring intervention network meetings toward that end. This intervention network approach can be used either alone or as part of an overall model, ARISE (A Relational lntervention Sequence for Engagement). The ARISE model addresses both clinical and programmatic issues in treatment engagement for substance abusers.
Judith Landau
Resumo: As autoras desejam, com este trabalho, re-acender discussões sobre a importância da inclusão da família no atendimento de pessoas portadoras de sofrimento psíquico, que fazem uso de psicofármacos. Diversos estudos foram realizados a esse respeito e, ultimamente, tem-se dado ênfase especial à forma de comunicação entre os membros da família e como são construídas crenças em relação à doença psiquiátrica. Através da apresentação de alguns casos atendidos, iremos demonstrar o nosso entendimento e abordagem dos mesmos.
Abstract: The authors want, with this paper, to reopen discussions about the importance of the inclusion oft he family in the treatment of people porting psychiatric ill that have to take drugs. Researches were made about that and, now a days, a special attention is given to the communication in the family and in how they build their believes about the psychiatric illness. We will present cases to demonstrate our approach and understanding.
Helena Centeno Hintz, Adrianna Zucchi, Ana Lúcia M. Carvalho da Silva, Elisara G. da Costa, Laíssa Eschiletti Prati, Laura de Bem, Lindoia Cusinato, Lurdes Pacheco Aibar, Paula Centeno Hintz Baginski, Silvia Chwartzmann Halpern
Resumo: “E não devemos avançar qualquer tipo de teoria. Não deve ter qualquer coisa hipotética em nossas considerações. Nós temos que lidar com explanações, e simplesmente dar lugar à descrição. E esta descrição adquire sua luz, para não dizer propósito, dos problemas filosóficos. Estes não são, naturalmente, problemas empíricos; são resolvidos, então, ao olharmos para dentro das funções da nossa linguagem e é isto, de certo modo, ql faz reconhecer essas funções: apesar do desejo de não entendê-las. Os problemas são resolvidos não por darmos novas informações, mas por organizarmos o que nós sempre soubemos. A Filosofia é uma batalha contra o enfeitiçamento da nossa inteligência por meio da linguagem.” (Ludwig Wittgenstein; Philosophical Investigation, p. 109)
Tom Andersen
Resumo: Este artigo apresentará uma forma de compreender as famílias quando as palavras habituais parecem muito tolas ou mesmo perigosas. Ou si mente quando não há palavras para expressar experiências caóticas, como, geralmente, é o caso quando os membros da família têm sentimentos de raiva, medo, tristeza ou vergonha. O trabalho combina dois campos principais da prática clínica: falando de forma reflexiva em um processo sistêmico – construcionista e pintando e encontrando-se com as “paisagens interiores” em um processo de arte-terapia, indo antes ao mundo de expressões, principalmente através da pintura e das palavras, no trabalho que constitui o campo forma desta comunicação.
Eva Kjellberg
Resumo: Este artigo compreende a análise e o manejo transformativo dos conflitos com um novo paradigrna em comunicação e como uma profunda transformação cultural orientada a promover conversações criativas, coordenações entre os participantes e ações eficazes nos âmbitos significativos de nossa vida: família, educação, qualidade de vida, em nossa comunidade, contextos profissionais, equipes de trabalho, organizações públicas e privadas, participação cidadã e ternas de interesse público. Propõe abordagens e habilidades baseadas na comunicação, a facilitação e os diálogos transformativos que permitem aos operadores sistêrnicos e aos participantes envolvidos em situações difíceis, tomar-se protagonistas próativos no manejo de conflitos e problemas, ampliando seus contextos de ação.
Abstract: This paper understands conflict analysis and transformative management as a new paradigm in communication and as a profound cultural transformation oriented towards promoting constructive conversations, coordination between the participants and efficient actions in the significants areas of our lives: family, education, quality of life in our community, work contexts, work teams, public and private organizations, citizen participation, and issues of public interest. Proposes new approaches and skills based on communication, facilitation and transformative dialogues that allow systemic practioners and participants involves in difficult situations to become proactive protagonists in the management of conflicts and problems, expanding their contexts of action.
Dora Fried Schnitman