Revista Pensando Famílias
“Pensando Famílias” é uma publicação regular do DOMUS – Centro de Terapia de Casal e Família visando a divulgação de artigos inéditos referentes às áreas de casal e família. As modalidades dos trabalhos aceitos incluem artigos teóricos, relatos de pesquisa e casos clínicos, artigos de revisão e/ou atualização bibliográfica, resenhas e outros que serão submetidos para avaliação da Comissão Editorial, Conselho Editorial e Consultores ad hoc.
Textos, posicionamentos teóricos e ideológicos, contidos nos trabalhos propostos, são, unicamente, de responsabilidade do autor.
Em outubro de 2005, o DOMUS completou 15 anos. No transcorrer destes anos, nossa Instituição foi se enriquecendo através das várias atividades desenvolvidas pela equipe de coordenação. Muitos dos colegas, que aqui fizeram sua formação como terapeutas de família, permanecem conosco valorizando o trabalho realizado no DOMUS, o qual transcende a formação na área de terapia de família. Outras áreas de estudo foram também privilegiadas, grupos de estudo foram formados, estágios foram oferecidos, formadores nacionais e internacionais trouxeram suas experiências profissionais. Muitos momentos de alegria e trocas intelectual e afetiva, assim como momentos de tensão e tristeza foram por todos nós vivenciados, mas certamente isso é que nos torna mais fortes para acionar os recursos necessários para dar continuidade à vida.
Entre todos estes acontecimentos, a PENSANDO FAMÍLIAS foi criada. Desde 1999, a revista vem sendo publicada, inicialmente de forma anual e há dois anos semestralmente. Desde seu primeiro número ela vem cumprindo seu objetivo que é o de possibilitar o trânsito de idéias sobre as relações interpessoais dentro do contexto familiar. A publicação de uma revista é uma atividade muito complexa e, sendo um espaço com possibilidade de ser formador de idéias, acarreta uma imensa responsabilidade. Nossa experiência na edição da PENSANDO FAMÍLIAS tem sido muito positiva, pois as pessoas que têm participado como autores ou como colaboradores da mesma entendem a sua relevância, viabilizando seu constante aperfeiçoamento. Vários autores nacionais e internacionais têm enviado suas produções, abrindo um amplo panorama de idéias e reflexões enriquecedoras, contribuindo para uma troca de experiências entre profissionais, quer trabalhem com terapia familiar ou não. Chegar no patamar em que a revista encontra-se atualmente, de ser respeitada como um veículo de divulgação da terapia familiar, não foi fácil. Entretanto hoje ela já faz parte de nossa atividade profissional, proporcionando satisfação aos que dela participam. Acreditamos que a PENSANDO FAMÍLIAS proporcione benefícios a todos aqueles que de uma forma ou outra têm contato com ela, tanto na forma de expor suas idéias como para aqueles que, através da leitura, venham a conhecer estas idéias.
Ao finalizar mais um ano de trabalho, costumamos avaliar as realizações alcançadas, porém aqui pretendemos pensar sobre o que ocorrerá já no início de 2006.
Em março estará em Porto Alegre Michael White, terapeuta de família, co-criador da Terapia Narrativa e co-diretor do Dulwich Center em Adelaide, Austrália. Em março de 2005, M. White esteve em Salvador, BA. Nessa ocasião, ele trouxe suas idéias sobre como ajudar as pessoas a reconstruírem suas histórias. Ele diz que há muitas histórias, mas as pessoas vivem como se houvesse uma única história. Elas não se conectam com os vários eventos que há em suas vidas os quais precisam ser descobertos, transformando-se em recursos para possibilitar a mudança. A Terapia Narrativa, através da conversação, desenvolve um trabalho de trazer à tona as histórias pessoais que estão submersas no interior de cada um. M. White trabalha centrando-se nos recursos e forças pessoais em contraposição aos déficits para provocar a mudança. O indivíduo deixa de ter uma única forma de perceber a si mesmo e resgata outras histórias, abrindo-se um leque de novas possibilidades, conseguindo, assim, chegar a um ponto de mudança em sua vida. Ele acredita nas possibilidades da resiliência e suas conversações são baseadas nos re-relatos dos eventos da vida, possibilitando a aquisição de novas visões sobre a história pessoal existente.
Nesta edição, M. White, em seu artigo, apresenta um modelo de trabalho com casais, onde salienta as modernas noções de comunicação saudável e salienta algumas dificuldades associadas com essas noções.
Julia Hickmann relata um estudo realizado através de uma pesquisa onde focaliza as concepções de adultos jovens, casados e solteiros, sobre a fidelidade conjugal nos relacionamentos dos casais. Além disso, propõe-se a examinar as expectativas dos adultos jovens em relação aos seus parceiros e conhecer suas reações frente à possibilidade de infidelidade do parceiro conjugal.
L. Kruger e B. Werlang apresentam o estudo sobre a associação entre a avaliação que os cônjuges fazem de seu casamento e a ruptura do vínculo conjugal, utilizando a Escala ENRICH para Casais. Recomendam a abordagem de questões relativas ao período de casamento em programas de prevenção e intervenção junto a cassais que estão em processo de ruptura do vínculo conjugal.
A associação entre a compreensão sistêmica e a leitura psicodinâmica enriquece o entendimento da lógica interna dos sistemas avaliados e auxilia o casal na resolução de seus conflitos conjugais. Este é o tema que Denise Duque aborda em seu artigo.
Pietro Barbetta propõe diferentes interpretações para a conversa terapêutica. A primeira é uma hermenêutica construtivista, sendo o seu foco principal a produção de “perturbações”, com a finalidade de ajudar os sistemas familiares a se reorganizarem. A outra é a hermenêutica construcionista, que considera o terapeuta um especialista. Barbetta propõe uma discussão entre as diferenças analisadas.
Maria R. Seixas discorre sobre a difícil eleição de uma escala de valores que não privilegie a impunidade dentro do novo paradigma sistêmico que torna a sociedade menos preconceituosa. Escreve que a família como instituição social passa por transformações desenvolvendo novas formas e significados, surgindo, então, a necessidade do terapeuta familiar, que promova mudanças e co-construa alternativas com a família.
M. Narvaz e S. Koller apresentam a família como uma construção humana. As autoras afirmam que embora a visão normativa de família corresponda à família nuclear, há diversas configurações familiares que são invisibilizadas como formas legítimas e válidas de família. Entendem ser necessária a problematização do modelo normativo de família a fim de que possa haver a legitimação de modelos alternativos há muito encontrados na história da humanidade.
Através de um breve resumo do filme “Um Grande Garoto”, Giana Frizzo discute alguns conceitos da terapia da família, tais como a questão do conceito de família e o delineamento de fronteiras nas novas configurações familiares, assim como o impacto da depressão materna.
Rúbia Bruzzo relata sua vivência como Assistente Social da Divisão de Junta Médica da UFRGS, embasada pela teoria sistêmica que subsidia a Terapia Familiar. A autora realizou uma pesquisa sobre as interferências da aposentadoria por invalidez no ciclo vital das famílias, sendo um dos seus objetivos refletir sobre o que se pode fazer para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e familiares que passam pela experiência de uma aposentadoria por invalidez.
Encerramos esta edição com o obituário sobre Urie Bronfenbrenner escrito por S. Koller, onde ela discorre sobre alguns fatos relevantes da vida de Bronfenbrenner.
Desejamos a todos uma boa leitura.
Helena Centeno Hintz
Resumo
Após revisar algumas forças sociais e relacionais que contribuem para impasses no contexto de aconselhamento conjugal, o autor apresenta um modelo de trabalho com casais o qual estabelece a terapia como um contexto para o enriquecimento da história de desenvolvimento. Na discussão que segue o autor tem a intenção de salientar as modernas noções de comunicação saudáveis, ‘exóticas’, que vem sendo subestimadas e salientar algumas dificuldades associadas com essas noções. A abordagem do trabalho com casais que será descrita aqui é considerada consistente como uma ajuda nos atendimento com casais, os quais tenham uma história com grandes conflitos.
Palavras-chave: terapia de casal; narrativas; conflitos.
Narrative Practice, Couple Therapy e Conflict Dissolution
Abstract
After reviewing some social and relational forces that contribute to impasses in the context of couple counselling, the author will provide an account of consultations with a couple that establish therapy as a context for rich story development. In the forgoing discussion it has been authors intention to render modern taken-for-granted notions of healthy communication ‘exotic’, and to address some of the pitfalls associated with these notions. The approach to working with couples that will be described here is found to be consistently helpful in consultations with couples that have a history of high conflict.
Keywords: couples therapy; narrative; conflict.
Michael White
Resumo
Este estudo irá focar as concepções de adultos jovens, casados e solteiros sobre a fidelidade conjugal. Terá como objetivo verificar o sentido da fidelidade dentro dos relacionamentos conjugais na atualidade. Grande parte dos autores que embasam este trabalho é da linha sistêmica. Grupos focais foram formados com homens e mulheres, casados e solteiros. Respeito, compromisso, honestidade e transparência foram conceitos citados por todos os grupos. Para todos, pareceu inaceitável a concepção de uma relação aberta, onde a exclusividade sexual fosse dispensável. Houve maior semelhança entre os resultados obtidos entre os grupos de mesmo gênero do que os de mesmo estado civil. As casadas concentraram-se mais na questão do contrato ser fiel às combinações feitas entre o casal na ocasião do casamento. Já as solteiras focalizaram a infidelidade no pensamento. Ambos os grupos masculinos associaram fidelidade principalmente ao sexo. Entretanto, citaram também a importância do afeto e concentraram-se bastante na questão do contrato.
Palavras-chave: adultos jovens; sexualidade; namoro; casamento; fidelidade.
The meaning of conjugal fidelity in the current days
Abstract
This study will focus the conceptions of young, married and the single people about conjugal fidelity. It aims to find out the meaning of fidelity inside the conjugal relationship in the current days. Most of the authors who write about this subject are from the systemic line. Special groups were formed with women and men both married and single. Respect, commitment, honesty, transparency, these are concepts which were mentioned in all the groups. To everyone the idea of having an open relationship was unacceptable, where also the sexual exclusivity was dispensable. There was a bigger similarity between the groups of the same gender than the ones of same civil status. The women who are married concentrated more about their contract being faithful to what was promised between the couple on the wedding day. On the other hand the single women focused infidelity in their thought. Both masculine groups related fidelity mainly to sex. However, they also mentioned the importance of affection and, the married men, concentrated a lot in the matter of the contract.
Keywords: young; sexuality; courtship; marriage; conjugal fidelity.
Julia E. Hickmann
Resumo
A escolha de manter ou romper o vínculo conjugal é uma decisão que abriga em si múltiplos fatores, que estão intimamente relacionados à experiência dos parceiros no exercício da conjugalidade. Este artigo apresenta o estudo que investigou a associação entre a avaliação que os cônjuges fazem do seu casamento e a ruptura do vínculo conjugal, utilizando a Escala ENRICH para Casais. Os resultados obtidos permitem afirmar que a avaliação que os cônjuges fazem do seu casamento tem relação com a ruptura do vínculo conjugal e que os grupos investigados podem ser discriminados através da percepção dos parceiros sobre o seu relacionamento. Recomenda-se a abordagem de questões relativas ao período de casamento, em programas de prevenção e intervenção na realidade dos casais que estão em processo de ruptura do vínculo conjugal, levando-se em consideração a percepção singular dos parceiros sobre os aspectos da sua união e as diferenças existentes entre eles.
Palavras-chave: ruptura do vínculo conjugal; avaliação do casamento; Escala ENRICH.
Study of the Rupture of the Conjugal Bound through the Marriage Evaluation
Abstract
The choice of maintaining or rupturing the marital bond is a decision that in itself involves multiple factors. These factors are closely related to both partners experience in their marriage. This paper presents the study has investigated the association between the evaluation that partners make of their marriage and their break up, throught ENRICH Couple Scale. The results make it possible to say that the evaluation that couples make of their marriage is relatated to their rupturing. It can also be said that the studied groups can be discriminated through the partners’ perception of their relationship. Thus, it is recomended approach the questions related to marriage in prevention programs and intervention in the couples´s reality whose marital bond is about to be disrupted. It is also necessary to take into account the single perception of the partners on the aspects involved in their relationship and the differences that exist between them.
Keywords: Rupture of marital bond; marital evaluation; ENRICH Couple Scale.
Liara L. Krüger e Blanca S. G. Werlang
Resumo
Neste artigo a autora demonstra através de um exemplo clínico de terapia de casal como é possível associar à compreensão sistêmica a leitura psicodinâmica, para melhor compreender a lógica interna dos sistemas avaliados e melhor auxiliar o par na resolução de seus conflitos conjugais, ajudando-o a desvendar as lealdades e fidelidades transgeracionais e as identificações construídas sobre imagens do passado.
Palavras-chave: conflito conjugal; lealdades transgeracionais; exploração do passado.
The Exploration of the Past in Marital Therapy: (Re) Discovering the Adult’s Child
Abstract
In this clinical case of a marital therapy, the author combines psychodynamic and systemic theories. The articulation of these two theoretical perspectives enlarges the possibilities to understand the conflicts, and helps the couple to overcome them. In this particular case, the therapeutic strategy allowed revealing trans-generational loyalties and allegiances, as well as each of the partner’s identifications with people and scenarios from the past.
Keywords: marital conflict; trans-generational loyalties; revisiting the past.
Denise F. Duque
Resumo
Nesta contribuição a tarefa do psicoterapeuta é considerada como intermediária para uma variedade de interpretações de conflitos. A prática da psicoterapia requer uma “terceira posição”, onde as definições dos conflitos, de seus próprios pontos de vistas, não permitem tal terceira posição. Seguindo um método expositivo usado por Ricoeur (1965) e Billig (1987), proponho diferentes interpretações para a conversa terapêutica. A primeira é uma hermenêutica construtivista. De acordo com ela, os sistemas terapêuticos são concebidos como “sistemas perscrutadores”, na busca da autopoiesis e da conclusão organizacional dos sistemas familiares. Seu foco principal é produzir “perturbações” a fim de ajudar os sistemas familiares a reorganizarem-se. O segundo é hermenêutica construcionista, que considera o terapeuta como um “especialista em conversa”. O terapeuta é como um contador de histórias, encontrando outros contadores de histórias (os membros da família), e então eles tentam mudar as hitórias antigas, construindo juntos novas histórias. Veremos que estas diferentes abordagens dão origem a diferentes interpretações (geralmente irreconciliáveis) (Ricoeur, 1965) sobre a “mesma história”. Questiono que a escolha entre estas diferentes abordagens é uma questão duvidosa sob o ponto de vista teórico, e tem, principalmente, a ver com a ‘praxis’ e com a ‘phroenesis’ do terapeuta. Após analisar as diferenças, proponho um diálogo entre estas diferenças.
Palavras-chave: interpretação; conversação terapêutica; sistemas terapêuticos.
The Conflict of the Interpretations in Psychoterapy. An Ethnographic Perspective
Abstract
In this contribution the task of the psychotherapist is envisioned to be one intermediate to a variety of conflicting interpretations. The practice of psychotherapy does require a “third position”, where the definitions of the conflicting points of view themselves do not allow such a third position. Following an expositive methodology used by Ricoeur (1965) and Billig (1987), I will propose different hermeneutics for therapeutic conversation. The first one is a constructivist hermeneutics. According to it, the therapeutic systems are conceived as “observer systems”, in search of autopoiesis and organizational closure of family systems. Their main focus is to produce “perturbations” in order to help family systems to re-organize themselves. The second one is constructionist hermeneutics, that considers the therapist as a “conversationalist”. The therapist is like a storyteller, meeting other storytellers (the members of the family), and they try to change the old stories, constructing together new stories. We will see that these different approaches give rise to different (often irreconcilable) interpretations (Ricoeur, 1965) about the “same story”. I will argue that the choice among those different approaches is an undecidable question at a theoretical level, and has mainly to do with praxis and phronesis of the therapists. After having analysed the differences, I will propose a dialogue among those differences.
Keywords: interpretation; therapeutic conversation; therapeutic systems.
Pietro Barbetta (PhD)
A Família na Atualidade: Adequação dos Recursos Terapêuticos e Valores do Terapeuta
Resumo O novo paradigma sistêmico torna a sociedade menos preconceituosa, mas dificulta a eleição de uma escala de valores que pode levar à impunidade. A situação pós-moderna é de crise social de verdades e valores. A família como instituição social passa por transformações desenvolvendo novas formas e significados, mas perdendo em consenso e pertinência. Surge a necessidade do terapeuta familiar, “crítico da ideologia familiar”, que promove mudanças e co-constrói alternativas com a família. Difícil missão, por ele próprio estar envolvido na crise de valores. Nagy (1998) e Moreno (1970) oferecem recursos técnicos que possibilitam o trabalho terapêutico, com valores familiares, sem contaminação com a ética do terapeuta. Nova proposta social de uma “ética renovada”.
Palavras chaves: valores familiares; terapia familiar; ética.
The Suitability of Therapeutical Resources and the Therapist’s Values
Abstract The new systemic paradigm makes the society less prejudicing, but it makes difficult the election of a new school of values, which may lead to impunity. The post-modern situation is of a social crisis concerning truths and values. The family as social institution has been through transformations, having developed new ways and significances, however losing consensus and pertinence. There arises the need of a Family Therapist, “critic of the family ideology”, who promotes and co-builds alternatives together with the family. But how to do that, once involved in a social crisis of values? Nagy (1998) and Moreno (1970) offer technical resources that enable the therapeutic work with family values, without directivity or contamination with the therapist’s ethics. A new social proposal for “renewed ethics”.
Key words: family values; family therapy; ethics.
Maria Rita D’Angelo Seixas
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Resumo
O objetivo deste artigo é o de apresentar a família enquanto invenção, ou seja, enquanto construção humana. Embora a visão normativa de família corresponda à família nuclear, monogâmica, patriarcal e burguesa, houve e ainda há diversas configurações familiares que são, entretanto, invisibilizadas e desqualificadas enquanto formas legítimas e válidas de família. Uma vez que os pressupostos dos terapeutas e pesquisadores influenciam suas concepções, entendemos ser necessária a problematização do modelo normativo de família a fim de que possamos contribuir com a legitimação de modelos alternativos há muito encontrados na história da humanidade e, quem sabe, com a criação de novas, criativas e prazerosas formas de estar em família.
Palavras-chave: família; modelo de família normativa; modelos alternativos de famílias.
The Invention of Family
Abstract
The aim of this article is to present family while invention, it means, while human construction. Although family normative model corresponds to nuclear, monogamist, patriarchal and bourgeois family, there was and still there are several family models that have been, however, denied and disqualified while legitimate and valid family models. Once therapists’ and researchers’ presuppositions influence theirs conceptions about family, we have to problematize normative family model in order to contribute to legitimate alternative family models that have been finding across human history and, maybe, also to contribute to create new, inventive and pleasant forms to be in family.
Keywords: family; family normative model; alternative family models.
Martha Narvaz e Sílvia Helena Koller
As Novas Configurações Familiares e a Depressão Materna: Análise do Filme “Um Grande Garoto”
Resumo
Inicialmente será apresentado um breve resumo do filme “Um Grande Garoto”. Após são discutidos alguns conceitos da terapia da família que foram associados com passagens do filme acerca das novas configurações familiares, como a questão do conceito de família e o delineamento de fronteiras. O impacto da depressão materna para o menino do filme também é discutido. Por fim, nas considerações finais são feitas algumas críticas ao filme, bem como se apontam algumas possíveis intervenções que poderiam ter sido realizadas caso a família procurasse apoio psicológico.
Palavras-chave: depressão; rede de apoio social; mães solteiras. New Family Configurations and Maternal Depression: a Movie Analysis of “About a Boy”
Abstract
Initially it will be presented the summary of the movie “About a boy”. Afterwards, the concepts of family therapy, which were related to parts of the movie will be discussed, such as the concept of family and frontiers. The maternal depression impact for the boy of the movie is also discussed. Finally, in the final conclusions, some critics are made about the movie, as long as some possible inteventions that could habe been made in case the family had looked fo psychological help are suggested.
Keywords: depression; social networt; single mothers.
Giana Bitencourt Frizzo
Interferência da Aposentadoria por Invalidez no Ciclo Vital Familiar: Uma visão sistêmica
Resumo
O presente estudo é o relato da nossa vivência como Assistente Social da Divisão de Junta Médica da UFRGS, enriquecida pelo embasamento da teoria sistêmica que subsidia a Terapia Familiar. Pensar em aposentadoria, leva-nos a associação com a velhice. Pesquisar referencial teórico é debruçarmo-nos nos livros de gerontologia. Investigar esse assunto em todos os seus seguimentos é constatar que nem sempre aposentadoria é sinônimo de velhice. Construir um referencial teórico neste seguimento e interseccioná-lo com o ciclo vital da família através de uma pesquisa, foi o nosso desafio.
Palavras-chave: aposentadoria; ciclo vital; pesquisa.
The impact of illness retirement in the family life cycle: A systemic vision
Abstract
The present study is a report of our experience as a social worker in the Department of Legal Medicine of UFRGS, enriched by the System Theory which embassies the Family Therapy. To think about retirement leads us to associate it with old age. To research these theoretical issues is to bend over on books of aging. To investigate this subject in all their aspects is to find out that retirement is not always a synonym of elderly. Our challenge on this research is to build a theory on the subject within the life cycle theory.
Keywords: Retirement; life cycle; research.
Rúbia Maria Konat Bruzzo
Escrever sobre Bronfenbrenner era fascinante e emocionante enquanto ele estava entre nós fisicamente, porque ele nutria nossas palavras com sua vivacidade e nos dava a garantia de uma excelente interlocução. Tivemos boa ventura nisto, porque sua vida foi longa. Mas como ele mesmo nos revelou: “dias são números, e numerados por natureza. E eu tenho evitado o efeito último, por mais tempo que muitos, mas este efeito inevitável é provável que seja logo”, e este dia chegou. Urie Bronfenbrenner faleceu em sua casa, em Ithaca, New York, no dia 25 de Setembro de 2005, aos 88 anos.
Bronfenbrenner nasceu em Moscou em 29 de abril de 1917 e foi para os Estados Unidos aos seis anos de idade, após experimentar forte privação no seu país de nascimento e a conseqüente morte de um irmão. Viveu toda sua vida neste país, mas sempre manteve suas raízes russas, marcadas pelo cultivo da cultura e da língua-mãe. Completou seus estudos fundamentais em Haverstraw, no estado de Nova York, e recebeu seu grau de Bacharel em Psicologia e Música, em 1938, por Cornell. Fez Mestrado na Harvard University e o Doutorado na University of Michigan terminando em 1942. Foi casado com Liese, com quem teve seis filhos e 13 netos, e uma bisneta.
Talvez pudesse ser mais difícil escrever sem termos ele por perto para alimentar o diálogo. No entanto seus ensinamentos, sua alegria e muitas doces lembranças nos despertam a vontade de continuar. Definitivamente sua capacidade de mudar o mundo está marcada em suas obras, que são maiores e mais intensas do que os vários livros e artigos escritos. Ele mudou a forma como muitos cientistas vêem o mundo, e o fez para melhorar a qualidade de vida de muitos. Sua teoria sobre a ecologia do desenvolvimento humano tem sido responsável por isto, desde 1979. O fato de ser aberto ao diálogo e à revisão de seu próprio pensamento manteve suas idéias em constante discussão e revisão, apropriando-se dos fatos do cotidiano e da evolução da ciência em várias disciplinas. Soube como poucos acolher e responder aos seus críticos, fez questão de romper com os padrões, para buscar sempre novas e mais eficazes formas de produzir e aplicar seu conhecimento.
Bronfenbrenner é, ainda e portanto, um proeminente Ecologista Humano, pois estava sempre na busca do equilíbrio entre o ser humano e o seu ambiente, na tentativa de que ambos não se extinguissem mutuamente. Fundou, junto a outros profissionais, em 1965, o Programa Head Start, destinado a crianças e famílias de baixa renda. Foi Professor Emérito Jacob Gould Schurman em Desenvolvimento Humano e Psicologia de Cornell University, onde iniciou em 1948 suas atividades e passou a maior parte de sua vida profissional. Em 1993, em sua homenagem, a universidade renomeou o instituto no qual ele ensinava como Bronfenbrenner Life Course Institute.
Suas idéias iluminaram modelos teóricos e metodológicos de pesquisa e também fundamentalmente políticas sociais. Foi um lutador pelos direitos humanos e especialmente pelos direitos das crianças no seu país de residência e em muitos outros países pelo mundo, enfatizando a necessidade de atentarmos para a gravidade das condições ecológicas de vida atual e para a preparação em superar problemas no futuro próximo, com ações efetivas e imediatas em favor de crianças e famílias.
Editou como autor principal ou em co-autoria mais de 300 artigos científicos e capítulos, e catorze livros, sendo o mais marcante o “Ecologia do Desenvolvimento Humano (The Ecology of Human Development)”, editado em 1979 (traduzido para o Português em 1996), pois apresentava a primeira formalização de sua teoria. Em 2004, publicou seu último livro “Making Human Beings Human”, ainda não traduzido para o Português, que é uma compilação e atualização de seus principais estudos ao longo da vida. Como o próprio título deste último livro aponta sua preocupação maior que foi sempre “Fazer Seres Humanos Humanos”.
A abordagem bioecológica do desenvolvimento humano, como Bronfenbrenner chamou mais recentemente sua teoria, propiciou muitos vínculos entre várias disciplinas, permitindo uma visão mais integrada do ser humano, de seu contexto, de sua história de vida, rotinas e processos de desenvolvimento. Rompeu barreiras entre as ciências sociais, permitindo uma ampla visualização e compreensão de como diversos níveis de sistemas interagem de forma complexa e dinâmica e podem exercer influência sobre o desenvolvimento humano ao longo do curso de vida da pessoa. Da mesma maneira, enfatizou o fato de esta pessoa em desenvolvimento poder retroalimentar estes sistemas e gerar mudanças nos mesmos.
Bronfenbrenner sempre foi um exemplo de pesquisador e profissional. Sua carreira foi marcada pela alegria de compartilhar seus conhecimentos com seus seguidores, pela premência de transformar em aplicação suas idéias para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos e pela auto-exigência constante em publicar seus achados.
Bronfenbrenner era uma pessoa otimista e sempre dizia, ao despedir-se de alguém: – “Até nosso próximo encontro!”, porque tinha a esperança que cada um de nós voltaria a discutir com ele as suas idéias e as intrigantes questões que gostava de responder. Nem sempre respondia e isto ainda o fascinava mais marcadamente. Mas é certo que todos nós, que visualizamos um mundo melhor, voltaremos sempre às suas idéias e buscaremos nelas uma resposta para melhorar a qualidade de vida do mundo que nos cerca.
Sílvia Koller