Gaslighting
O termo refere-se a um tipo de abuso psicológico em que alguém manipula informações de forma que o outro passa a questionar a realidade a sua volta. É uma tática sutil que ocorre somente em pares íntimos (parceiros amorosos, familiares ou amigos).
Ataques verbais, alusões a estereótipos e acusações de loucura ou falta de memória são algumas expressões desse abuso que tem como objetivo controlar o outro na relação.
A socióloga Paige L. Sweet (2019) da Universidade de Harvard explica que essa forma de abuso pode ser entendida como parte de projetos de opressão coletivos (estereotipagens) baseados em gênero, etnia, idade, classe e condições de saúde como transtornos físicos ou mentais. Num estudo recente, ela relata pontos em comum entre as experiências de 43 participantes (acusadas de loucura, infidelidade/indecência, falta de memória, alcoolismo, e/ou falta de conhecimentos culturais) que sugerem que gaslighting existe onde um lado do relacionamento íntimo tenta dominar o outro mobilizando as vulnerabilidades institucionais, legais, econômicas, políticas e físicas das vítimas.
“Toda vez que eu queria terminar o relacionamento”, uma participante do estudo disse, “ ele dizia que é porque eu tenho [um desequilíbrio] em meus hormônios” Sweet (2019, p. 862). Esses micro-abusos geram uma sensação surreal de desconforto onde até o abuso físico torna-se preferível: “[O abuso físico] seria mais compatível com a realidade”, explicou outra entrevistada. Do ponto de vista psicoterapêutico, pode-se ver como esse tipo de situação deve ser reconhecida logo para que a situação não se intensifique.
Dificilmente o abusador reconhecerá conscientemente a extensão das consequências de suas ações e palavras, mas a “evidência mostra que o gaslighting está ligado a padrões insidiosos de controle, nos quais as mulheres [e outras pessoas vulneráveis como descrito acima] têm a mobilidade e acesso a suas redes sociais e institucionais de ajuda negadas” (Sweet, 2019, p. 862). Pela mesma razão, esclarecer para possíveis vítimas tais conexões sociológicas entre suas experiências pessoais, a de outras pessoas em situações similares e as infelizes raízes culturais desse tipo de abuso pode ajudar a colocá-las no caminho da mudança.
Referências
Sweet, P. L. (2019). The Sociology of Gaslighting. American Sociological Review, 84(5), 851–875.
João Pedro Martins Pinheiro
(BA em Psicologia e Sociologia pela Drew University)