Lembranças de uma Vida

Alice e Jim têm dois filhos pequenos e vivem uma vida tranquila até que ele descobre que tem uma doença grave, o que o leva à morte. A morte é perturbadora para todos os seres humanos. Ela é um segredo, um segredo que não podemos desvendar. Não podemos saber com exatidão o momento que ela chega, assim como não temos controle sobre ela. Para Wright e Nagy (2002), a morte “convida os membros da família a manterem seu segredo escondido; a viver como se morrer não fosse parte da vida” (p. 128).
A perda do marido dedicado e amado faz com que Alice se sinta sozinha com seus dois filhos pequenos, Felix e Elyssa. Alice, em sua profunda tristeza, mostra-se ausente emocionalmente na relação com os filhos. Elizur e Kaffman (In Carter & McGoldrick, 2001) sugerem que a incapacidade do progenitor sobrevivente de compartilhar os sentimentos de tristeza do filho gera um impacto em seu desenvolvimento e uma incapacidade de elaborar o luto. Todavia, ela se apaixona novamente e decide ser feliz, convidando seu namorado para morar junto com ela e seus filhos. Felix não aceita outro homem em sua casa, e mantém um relacionamento conflituoso com o mesmo. Antes de morrer, seu pai lhe incumbiu o papel de ser o novo pai daquela família, o que o menino assume em todos os ditames. Para Silva (2009), além do processo de luto ser mais difícil nas fases de transição do ciclo vital, é frequente que a criança seja depositária de expectativas que dificultarão a formação de novos vínculos, causando uma sobrecarga no sistema.
Elyssa é uma menina silenciosa e após a morte do pai adota uma conduta de mutismo que acaba levando-a a uma internação para tratamento psiquiátrico. O que ninguém sabe é o segredo que ela carrega consigo. Os segredos podem ser nocivos e ter longa duração, causando disfuncionalidade nos relacionamentos e problemas de comunicação (Imber-Black, 2002). Frequentemente a manutenção dos segredos tem o viés da proteção (Papp, 2002). Elyssa, no intuito de proteger a mãe, acaba se distanciando da mesma e tendo dificuldade no estabelecimento de sua própria identidade.
Brede, irmã de Alice, sempre a invejou, mas se mostrava amiga, desligando-se de seu trabalho para ajudá-la em seu momento de luto.
Anos mais tarde, eles se encontram para o aniversário de Felix. As lembranças são permeadas por mágoas e ressentimentos, interferindo nas relações.
O filme além do que foi discutido, pode também ser visto sob a ótica do recasamento e das motivações inconscientes na busca de um parceiro.

Referências

Carter, B. & McGoldrick, M. (2001). As mudanças no ciclo de vida familiar. In B. Carter e M. McGoldrick (org.). As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar (pp. 7-29). Porto Alegre: Artmed.
Imber-Black, E. (2002). Segredos na família e na terapia familiar: Uma visão geral. In E. Imber-Black (org). Os segredos na família e na terapia familiar (pp. 15-39). Porto Alegre: Artmed.
Papp, P. (2002). O caruncho no broto: Segredos entre pais e filhos. In E. Imber-Black (org). Os segredos na família e na terapia familiar (pp. 76-93). Porto Alegre: Artmed.
Silva, D. R. (2009). Famílias e situações de luto. In L. C. Osório & E. P. Valle (org). Manual de terapia familiar (pp. 376-398). Porto Alegre: Artmed.
Wright, L. M. & Nagy, J. (2002). Morte: O mais perturbador segredo familiar. In E. Imber-Black (org). Os segredos na família e na terapia familiar (pp. 15-39). Porto Alegre: Artmed.

Elisabete Beatriz Maldaner